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A última dose



aqui vamos nós, mais uma vez, a última bebida, o último
poema – décadas desta esplêndida sorte – outra madrugada
bêbada, e não no chão da cadeia de bebuns nesta noite esperando que
o cafetão negro saia do telefone de modo que eu possa fazer minha única
ligação permitida (tantas daquelas madrugadas também) eu levei
um longo tempo para encontrar a pessoa mais interessante com
quem beber: eu mesmo, assim, agora pegando à minha esquerda
a última taça do Sangue do
Cordeiro.

Putrefação



nos últimos tempos
ando pensando
que este país
retrocedeu
4 ou 5 décadas
e que todos os
avanços sociais
os bons sentimentos de
pessoa para com
pessoa
foram totalmente
varridos
e trocados pelas mesmas
intolerâncias
de sempre.

temos
mais do que nunca
o egoísta desejo pelo poder
o desrespeito pelos
fracos
pelos velhos
pelos empobrecidos
pelos
desamparados.

estamos trocando necessidade por
guerra
salvação por
escravidão.

desperdiçamos os
ganhos
viramos
rapidamente
menos.
temos a nossa Bomba
é o nosso medo
nossa danação
e nossa
vergonha.

agora
algo tão triste
nos domina
que
a respiração
escapa
e não conseguimos nem mesmo
chorar.